A EXPERIÊNCIA DE SEGUIR JESUS



O texto a seguir explica o seguimento de Jesus. Ele fala das três etapas espirituais e existenciais desta caminhada humana e cristã.


Motivos e a experiência interior do discípulo de Jesus devem amadurecer e purificar-se, como sucedia com os apóstolos segundo os relatos evangélicos, os quais nos revelam três etapas de crescimento na experiência do seguimento de Jesus, que correspondem a outras etapas na vida cristã.

A primeira etapa é o seguimento em que predominam a admiração e o interesse pela figura de Jesus e pelo seu ensinamento. Vê-se nela o caminho para fazer o bem e para realizar o ideal de serviço aos outros. Nos apóstolos, essa etapa é simbolizada pelo convite de Jesus “para serem pescadores de homens” (Lc 5,1ss). Vemos aí a resposta entusiástica para uma tarefa interessante e de protagonismo. Isto é próprio do início do processo do militante cristão. A motivação cristã nessa etapa é legítima e sincera e certamente não está isenta de amor. Mas deve amadurecer.

Na segunda etapa experimenta-se Cristo com o coração. A relação com Jesus é de amizade e afeto, o que ajuda a superar as dificuldades do seguimento. Jesus se torna para nós experiência de vida e não mestre da verdade. Cristo se revela como plenitude capaz de dar sentido a toda existência (e não só ao apostolado) e de satisfazer as aspirações humanas de felicidade. De certa maneira, esta etapa é simbolizada no relato evangélico da transfiguração de Jesus diante dos apóstolos no monte Tabor (MT 9,1ss). Eles descobrem o Senhor com o coração e como a plenitude que satisfaz seus desejos mais profundos (“É bom ficarmos aqui”). No entanto, esta etapa ainda não basta para a relação madura com Jesus. Agarrar-se a ela é deter-se no caminho da espiritualidade cristã, pois o seguimento de Cristo tem períodos e formas de exigência em que não bastam à força do afeto e a experiência do coração.

A terceira etapa consiste em experimentar e seguir Jesus na fé. Nela permanece o que há de bom e legítimo nas etapas anteriores, mas vai predominando cada vez mais a motivação da fé - unida à esperança e à caridade. A fé, porém, não se sente; nem sempre se identifica com o interesse humano, nem com o entusiasmo, nem com o afeto do coração, nem com a imaginação, nem com as idéias -, mas identifica-se com a fidelidade à palavra de Deus e com a entrega livre do fundo do ser a Cristo. No seguimento da fé existe a monotonia, a aridez e a semi-obscuridade da fidelidade diária. O seguimento na fé existe com ou sem fervor, na consolação ou na desolação. È o modo de seguimento dos apóstolos na paixão de Cristo, onde o seguimento de muitos, privado de apoios e de motivos psicológicos e puramente humanos, foi posto à prova e fracassou. Estavam dispostos s trabalhar por Jesus (ser pescadores de homens) e a experimentar a glória e a plenitude do Tabor, mas não a segui-lo na aridez da fé e apoiados tão-somente na esperança de suas promessas.

De modo semelhante, muitos de nós não temos a coragem de atravessar com determinação esta etapa, que é decisiva, a fim de caminharmos no seguimento em que a fidelidade predomina sobre o fervor sentido.

Fonte: Segundo Galilea
A Inserção na vida de Jesus e na missão
Paulinas, 1992,pp.35-38