As testemunhas



O Antigo Testamento bíblico foi um tempo de profecia e de preparação para a chegada dos objetivos do Reino de Deus. Hoje a comunidade cristã tem por obrigação testemunhar e concretizar o projeto iniciado por Jesus Cristo.

Assim sendo, a Igreja precisa estar sempre em estado de missão, colocando em prática os indicativos da Palavra de Deus, não perdendo de vista a necessidade incondicional da presença e da atuação viva de Jesus ressuscitado.

A realidade social, a violência e a exclusão generalizada ocasionam desânimo e um clima de cansaço. Com isto perdemos o rumo do nosso caminho, mergulhamo-nos na escuridão e numa vida de atividade quase sem sentido.

Por outro lado, não podemos perder a sensibilidade da presença de Cristo ressuscitado e de seu Espírito norteador. É como uma pesca sem resultado à primeira vista, mas rendosa a partir do seguimento da Palavra orientadora de Jesus Cristo.

Quanto mais desanimados, tristes, frustrados e sem perspectivas, menos frutos colhemos de nossas atividades. A fartura é fruto da confiança e de objetivos claros de forma total, gratuita e entusiasmada. O amor tem que ser uma ação até as últimas consequências.

Dar testemunho de Jesus Cristo pode levar ao sofrimento, ao mesmo caminho percorrido por Ele. Alguns são até torturados e mortos, são eliminados porque foram corajosos e determinados. A omissão impede o cumprimento dos objetivos concretos do Reino.

A sociedade capitalista neoliberal e consumista de hoje nos faz viver na escuridão, sem contar com a luz de Cristo ressuscitado que nos pede amor incondicional. O fio condutor do cristão é Jesus Cristo.

Os desafios para o testemunho hoje são muito grandes. Ele deve ser partilhado na comunidade cristã. A insensibilidade nos impede de enxergar Jesus, porque Ele está presente em nosso meio, particularmente nos gestos de fraternidade e partilha.

A fecundidade e a vida de comunidade dependem de obediência aos ensinamentos de Jesus Cristo. Isto Cria entusiasmo e alegria no serviço aos irmãos, superando uma fé morna demais, fazendo renascer o profetismo em nosso tempo.

Dom Paulo Mendes Peixoto
Bispo de São José do Rio Preto.

A era moderna e a alma serena



Não é pecado aproveitar as maravilhas do mundo moderno

Vivemos tempos de grandes 'milagres' modernos. Nunca o mundo viu tamanha velocidade de informação. Nunca se viu possibilidades técnicas tão avançadas como agora. Qualquer coisa que aconteça do outro lado do mundo é conhecido, quase ao mesmo tempo, pelo planeta todo. Basta um 'clique' com o mouse do computador para enviar a centenas de destinatários informações sobre guerras, atentados, tsunamis ou mortes.

O mundo vive seu apogeu científico: pesquisadores ousam romper o limite do ético e do biológico manuseando células-tronco e redescobrindo as nuances do código genético humano. Nunca como agora foi tão fácil conhecer culturas e pessoas geograficamente distantes e virtualmente presentes. É fácil para empresas virtuais arranjarem até 'casamentos' por encomenda! Somando as características de cada pretendente e calculando num software online a maior probabilidade de 'combinação' conjugal. Ultimamente ouve-se falar até de robôs tecnologicamente treinados para manifestar emoções.

Em contrapartida, nunca se viu um mundo tão caótico. Hoje, com um simples botão pode-se acender uma lâmpada em casa ou iniciar uma detonação atômica capaz de deflagrar a 3ª Guerra Mundial. O apelo da multidão chega a causar medo, fobias… é mais seguro e prazeroso perder horas navegando na Internet. No mundo virtual: uma coleção de amigos de Orkut, popularidade garantida! No mundo real: uma coleção de dias em solidão à frente de um computador. Nunca como agora se ouviu falar tanto de depressão, suicídio, perda do sentido da vida e apelo ao uso de drogas para driblar o tédio da modernidade.

Não é pecado aproveitar as maravilhas do mundo moderno. Deus não condena ninguém que tente, cientificamente, salvar vidas respeitando-as totalmente. Não há nada de errado em enriquecer-se conhecendo culturas e estreitando laços, virtuais ou não. O que, de fato, é contraditório é trocar o real pelo imaginário. É tolice trocar um abraço, enxugar uma lágrima de saudade por um "emoticon" do MSN. Com uma mensagem de celular posso escrever “eu te amo”, mas nada substitui a companhia fiel da pessoa amada nas horas difíceis da vida, de mãos dadas, lado a lado até que a morte os separe.

Por mais que a Era Pós-moderna nos maravilhe com suas descobertas, o homem continua sempre o mesmo: criado para amar e ser amado. Agostinho, santo católico que nasceu na África, convertido pelas lágrimas orantes de sua santa mãe, depois de 30 anos de libertinagem e boemia escreveu: “Senhor, tu nos fizeste e somos teus! E inquieto estará nosso coração enquanto não repousar em ti!” Ele tinha razão! Toda nossa curiosidade pela modernidade acaba sufocada pela sede interior que não quer calar…

Maravilhemo-nos com aquilo que a modernidade nos dá. Todavia, não nos esqueçamos de que as coisas da alma não se resolvem com um 'clique' ou um 'enter' de computador. É preciso algo mais. Alguém maior: Deus! Ele é o mesmo, ontem, hoje e sempre (cf. Heb 13,8)! Sempre moderno!

Padre Delton
Com. Canção Nova

Quer ser feliz?



Decida-se não parar diante das situações frustrantes

O ser humano constantemente busca a felicidade. Tudo o que as pessoas empreendem e visam tem como meta encontrar uma realização. Desde os gestos mais simples, como suprir as necessidades básicas, até os mais audaciosos projetos, são impulsionados pelo desejo de satisfação interior.

Essa procura pelo preenchimento da alma está inscrita no coração do homem. Deus nos fez para sermos felizes.

O Catecismo da Igreja Católica afirma: "Somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar" (CIC 27). É no Senhor que descobrimos a feliz vivência e a verdade acerca de todas as coisas, inclusive a nosso próprio respeito.

Em vários trechos da Sua Palavra, o Altíssimo nos dá princípios e ordens que nos orientam como proceder para sermos contagiados pelo bem-estar que vem d'Ele: "A alegria do Senhor será a vossa força" (Ne 8, 10); O Sermão da Montanha (Mt 5, 1-11); Honra teu pai e tua mãe para que sejas feliz e tenhas vida longa sobre a terra (Ef 6,2); e muitos outros.

Só desencaminha-se de tal desígnio divino aquele que procura ser feliz fora de Deus, que busca a sua própria verdade e realização (como se assim pudesse existir), motivado por uma noção inexata de como alcançar a felicidade. Em vez de construir uma Alegria incorruptível, procura gozo imediato sem projetar as consequências posteriores.

É essa a tentação que foi oferecida a Jesus no deserto (cf. Mt 4; Lc 4) e que também hoje o demônio usa para nos seduzir. Ele quer arrancar-nos a identidade através das ilusões do Ser, do Ter e do Poder, assim, cedemos aos impulsos que trarão satisfação apenas momentaneamente, colocamo-nos no lugar de deuses, perdemos a consciência da verdade a nosso respeito e consequentemente idolatramos aquilo que nos dá prazer.

Para vivermos a felicidade, desde já, é preciso renunciar a essas três tentações (ser, ter poder), trabalhando em nós virtudes que são inversas a elas, as quais nos restabelecem a verdade de sermos criaturas e de que somente em Deus obteremos a alegria.

São práticas contrárias às tentações:

O Louvor: palavras de agradecimento, de exaltação ao Senhor, que O colocam em primeiro plano na nossa vida, rendendo adoração Àquele que é e tudo pode em nós, por nós e em meio a nós. Louvar tira do ser humano a tentação do ser, pois só Deus é.

Mesmo em meio à tribulação louve, pois “todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam Deus” (Rm 8,28). Só um coração agradecido confia verdadeiramente nisso, pois louva a Deus diante de sua impotência e conta com o Deus Misericórdia, acreditando que mesmo do sofrimento algo de proveito virá.

Amaldiçoar nessa hora é não acreditar que o Senhor manifestará seu socorro.

Outro fator, é que aquele que não murmura, torna-se mais agradável no convívio com outras pessoas. Causam boa impressão onde passam. “A boca fala daquilo de que o coração está cheio” (Lc 6,45).

A Gratuidade: faça coisas sem esperar retribuição. Muitas das decepções que temos na vida vêm por esperarmos demais dos outros. Gratuidade liberta nosso coração de apegos e méritos, livra-nos da obrigação de recompensas, inclusive de nossas cobranças com nós mesmos. Quem não cobra do irmão, aprende a valorizar a pessoa em primeiro lugar a partir da experiência consigo.

Tenha iniciativa você, quando o outro não merece é sinal de que precisa ainda mais.

Agir com gratuidade é confiar na Divina Providência, já que proporciona o dom que se obteve de Deus em favor de quem está ao lado: “Recebestes de graça, de graça dai!” (Mt 10,8) e subtrai do coração a inclinação de ter.

O amor só é pleno quando é com gratuidade: “não é interesseiro, desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo” (I Cor 13, 5-6).

A Decisão: Aja para que sua felicidade aconteça. Tenha metas a pequeno, médio e longo prazo. A felicidade vem por meio de um projeto de vida. Se hoje não deu certo, não desista! Deus está nos seus sonhos. Sonhos podem ser o indicativo do Pai para a sua vocação.

Decida-se não parar diante das situações frustrantes. Isso comporta uma predisposição do coração em não se prostrar mediante os percalços e imprevistos do dia a dia. É natural ficar pesaroso diante de algo que venha a ferir os sentimentos, mas não se deve arrastar o problema ou supervalorizá-lo. O sofrimento tem que ser fecundo. Aprendemos com a dor. Mas tudo nesta vida passa! Nada permanece, a não ser Deus.

Lembre-se de que a pessoa que decide viver bem o seu dia, não se abate com alguns minutos que não foram favoráveis.

Decidir pela felicidade em Deus, investe contra o anseio de poder, pois busca motivos interiores para ser feliz e não se sujeita a estar bem por conquistar bens ou por ter pessoas subordinadas. É errônea a concepção de que só se é feliz quando se conquista algo.

Por fim, é possível não somente chegar à alegria terrena, na nossa natureza humana, como também ao júbilo espiritual, pois a felicidade é um dom para o ser humano no seu todo.

O Pai quer realizar-nos por completo, dando-nos a identidade de sermos filhos, que junto a Ele têm a posse do Seu Reino e de um dia podermos dividir da Sua glória. Aí está a verdade da felicidade.

Sandro Ap. Arquejada
Missionário Canção Nova

Fonte: Site Canção Nova