
A vida fraterna é uma graça, e a pessoa mais beneficiada é quem vive, pois ela vai sendo transfigurada pela pessoa de Cristo, vai se tornando um outro Cristo, traz em seu rosto as marcas de Cristo, pois Ele mesmo tornou-se exemplo para nós ao tratar os seus como tinha sido tratado pelo Pai: "Assim como o Pai me amou, também eu vos amei. Agora façam o mesmo entre vocês” ( Jo 15,9).
Jesus quis transmitir aos seus e por sucessão deles, a nós, de que deveríamos ser continuadores dessa vivência, dessa intimidade. “Agora, comuniquem-se mutuamente esse amor, tratem-se uns aos outros como o Pai me tratou e como eu tratei a vocês. Vivam amando-se”.
Ele foi o exemplo de que essa vivência seria possível, tanto que sabendo que tinha chegado sua hora, a hora de voltar para a Casa do Pai, e que dispunha de pouco tempo para estar com eles, abriu-lhes a porta de sua intimidade, numa abertura total. Em um gesto dramático, ajoelhou-se diante deles, lavou-lhes os pés, suprema expressão de humildade e de amor e lhes disse: agora façam o mesmo; tratem-se com veneração e carinho.
Ensinou-nos que mesmo sendo mestre e senhor serviu-lhes, quebrando todos os precedentes de que deveria ser somente servido e, com autoridade moral pelo seu exemplo lhes deu um preceito: amem-se. Se quiserem ser grandes, faça-se como o que está aos pés dos outros para reverenciá-los, servi-los à mesa, lavar-lhes e enxugar-lhes os pés: amem-se.
Dessa forma, Jesus nos ensina que é necessário impor, por cima do nosso egoísmo, do fechamento de cara, da impenetrabilidade do meu jeito de ser, as convicções de fé: o Pai desse irmão é meu irmão. O Deus que me amou e me acolheu é o Deus desse meu irmão. Será necessário abrir-me, aceitá-lo e acolhê-lo como filho de “meu Pai”.
Num outro momento, Jesus confirma isso quando levantou os olhos e, com uma expressão feita de veneração e carinho, dirigiu ao Pai esta súplica: “Pai santo, guarda-os em teu nome, o nome que tu me deste, para que eles sejam um, assim como nós somos um. Quando eu estava com eles, eu os guardava em teu nome, o nome que tu me destes. Eu os protegi e nenhum deles se perdeu a não ser o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura. Agora eu vou para junto de ti. Entretanto continuo a dizer essas coisas neste mundo, pra que eles possuam toda a minha alegria. Em favor deles eu me consagro afim de que também eles sejam consagrados com a verdade”. ( Jo 17,11b-12.19).
Noutras palavras: Pai querido temo por eles, o mundo está dentro deles: temo que o egoísmo, os interesses e as rivalidades desfaçam a unidade entre eles.Não permitas que os interesses os dividam e que as rivalidades acabem extinguindo a paz.Que sejam UM , Pai amado, como tu e eu. Não é necessário que os retire do mundo. Derruba neles as altas muralhas levantadas pelo egoísmo. Aterra os fossos e aplaina as lombadas para que eles sejam verdadeiramente unidade e santidade. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti,
Sejam também eles consumados no nosso Um.
Com isso, a Fraternidade é meta para os seguidores de Jesus. E “fraternidade não quer dizer apenas que vivemos juntos, uns e outros, ajudando-nos e nos complementando numa tarefa comum, como em uma equipe de pastoral, mas, e principalmente, que temos o olhar posto uns nos outros para amarmos mutuamente. Mais do que isso, quer dizer que vivemos uns-com-outros, de acordo com o exemplo e o preceito do Senhor..
No entanto, Jesus sabia que não seria fácil aos seus escolhidos, provenientes de vários lugares diferentes viverem tudo isso. Pessoas que antes nem se conheciam, agora viverem como irmãos, compartilhando tudo, com um só coração e uma só alma. Mas, o Espírito tornou tudo isso possível: foi o milagre de PENTECOSTES. A graça foi derramada transformando aquele “impossível”.
O dom foi derramado e os a vida daqueles que ali vigiavam e oravam, junto com Maria, a Mãe de Jesus, se transformaram. Os Atos nos apresenta que quando desapareceu a comunidade itinerante de Jesus, pela dispersão dos Apóstolos no mundo, surge em Jerusalém uma cópia da família apostólica como o ideal da existência cristã.
Viviam unidos. Tinham tudo em comum. Eram alegres. Nunca usavam adjetivos possessivos “meu”, “seu”. Iam diariamente, e com muito fervor, ao templo. Numa palavra, tinham um só coração e uma só alma. Passaram então a viver intensamente aquilo que aprenderam com Jesus, que deu exemplo de como se constrói a fraternidade por meio do serviço, lavando os pés dos discípulos, que orou por sua unidade, que deixou como testamento a Eucaristia, o sacramento da unidade, e que, enfim, morreu, pra reunir em uma só família os filhos de Deus dispersos.
A fraternidade tornou-se então, um Sacramento, sinal indiscutível da potência libertadora de Deus.Dessa forma, “O dom do Espírito é dado a quem reza com ‘perseverança’ e ‘junto’ com os irmãos e irmãs”.
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